sexta-feira, 9 de julho de 2010

Para comprensão do Fascismo(2)

5. O Fascismo é uma concepção religiosa onde o homem é encarado sob o ponto de vista da sua relação com uma lei superior, com uma vontade objectiva que transcende o indivíduo particular, elevando-o a membro consciente de uma sociedade espiritual. Quem, na política religiosa do regime fascista, se deteve em considerações de mera oportunidade, não compreendeu que, além de ser um sistema de governo, o Fascismo é também e acima de tudo um sistema de pensamento.
6. O Fascismo é uma concepção histórica, segundo a qual o homem só é aquilo que é, em virtude do processo espiritual para que concorre no grupo familiar e social, na nação e na história, na qual todas as nações colaboram. Daí, o grande valor da tradição nas memórias, nas línguas, nos costumes, nas normas da vida social.
Fora da história, o homem nada é. Por isso, o Fascismo se ergue contra todas as abstracções individualistas de base materialista tipo século XVIII; e contra todas as utopias e inovações jacobinas. Não julga possível a felicidade sobre a terra, como a desejava a literatura economicista do século XVIII e, portanto, repele as concepções teleológicas que vêm em certa época da história, a organização definitiva do género humano. Isto significa colocar-se fora da história e da vida, que é um contínuo fluir e devir. Politicamente, o Fascismo quer ser uma doutrina realista; na prática, aspira a resolver apenas os problemas que surgem por si, historicamente, permitindo a sua própria solução. Para agir entre os homens, tal como na natureza, é preciso entrar no processo da realidade e tornar-se senhor das forças actuantes.
7. Anti-individualista, a concepção fascista é a favor do Estado; e é pelo indivíduo, na medida em que este coincide com o Estado, consciência e vontade universal do homem, na sua existência histórica. Repele o liberalismo clássico, que surgiu da necessidade de reagir contra o absolutismo e esgotou a sua função histórica desde que o Estado se transformou na própria consciência e vontade populares. O liberalismo negava o Estado no interesse do indivíduo particular, o Fascismo reafirma o Estado como a realidade verdadeira do indivíduo. E, se a liberdade deve ser a prerrogativa do homem real e não do abstracto fantoche em que pensava o liberalismo individualista, o Fascismo é pela liberdade. E é pela única liberdade que pode ser uma coisa séria, a liberdade do Estado e do indivíduo no Estado, uma vez que, para o fascista, tudo está concentrado no Estado e nada existe de humano ou de espiritual, e muito menos tem valor, fora do Estado. Neste sentido, o Fascismo é totalitário, e o Estado fascista, síntese e unidade de todos os valores, interpreta, desenvolve e potencia a totalidade da vida do povo.

8. Nem indivíduos, nem grupos (partidos políticos, associações, sindicatos, classes) fora do Estado. Por isso, o Fascismo é contra o socialismo que paralisa o movimento histórico na luta de classes e ignora a unidade estatal que funde as classes numa única realidade económica e moral; analogamente, é contra o sindicalismo classista. Mas, na órbita do Estado organizador, o Fascismo quer que sejam reconhecidas as exigências reais que deram origem ao movimento socialista e sindicalista, fazendo-as valer no sistema corporativo, que concilia os diversos interesses na unidade do Estado.
9. Segundo as categorias dos interesses, os indivíduos são classes; são sindicatos, segundo as diferentes actividades económicas co-interessadas; mas, antes e acima de tudo, são Estado. Este não é número, um somatório de indivíduos que constituem a maioria de um povo.
Por isso mesmo, o Fascismo é contra a democracia, que identifica o povo ao maior número, rebaixando-o ao nível da maioria, mas é a forma mais pura de democracia, se o povo é concebido consoante deve ser, isto é, qualitativa e não quantitativamente, como a ideia mais forte, porque a mais moral, coerente e verdadeira, que actua no povo como consciência e vontade de poucos ou até de um só e como ideal que tende a agir na consciência e na vontade de todos. De todos os que, etnicamente, extraem da natureza e da história as razões para formar uma nação, ligados pela mesma linha de evolução e de formação espiritual de modo a constituir uma só consciência, uma só vontade.
Não estamos perante uma raça ou uma região geograficamente individualizada, mas face a uma estirpe que se perpetua historicamente, uma multidão unificada por uma ideia que é vontade de existência e de poder: consciência de si, personalidade.

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