«Os nossos antepassados deixaram-nos o ferro para conquistar a liberdade, não o ouro para comprá-la.»
"Viriato considerava a auto-suficiência como a sua maior riqueza, a liberdade como a sua pátria e a superioridade que lhe advinha da coragem como a sua mais segura posse."
Poucas figuras históricas da ancestralidade nacional suscitam mais admiração do que o homem que se conhece pelo nome de Viriato e que ganhou uma auréola quase mítica ao conseguir reunir as forças da Lusitânia e dirigi-las, o mais das vezes vitoriosamente, contra as legiões imperiais de Roma.
E o motivo da sua exaltação não se fica pelo brilhantismo da estratégia militar que demonstrou – prende-se, também, com a sua atitude sóbria, heróica e estóica, pois que partilhava o produto do que saqueava aos Romanos com os seus camaradas de armas e nunca tomava para si mais do que os seus homens recebiam.
Grande parte da sua vida permanece desconhecida, logo a começar pelo local do seu nascimento, que a historiografia tradicional situava na Serra da Estrela, mas que alguma moderna investigação situa em regiões mais meridionais. Trata-se de uma das polémicas históricas que actualmente rodeiam este vulto da ancestralidade hispânica ocidental. Todavia, tal discussão é de relevância secundária, pois que não se põe em causa que o Povo por si liderado foi o dos Lusitanos, nação indo-europeia situada entre o Tejo e o Douro e cuja fronteira a leste coincide em boa parte com a actual fronteira portuguesa.
E fala-se em ancestralidade hispânica ocidental porque não são apenas os Portugueses que o têm por antepassado; de facto, também em Espanha, mais concretamente na zona da fronteira com o centro de Portugal, há quem considere Viriato como seu herói «nacional».
O seu nome, que também se pode escrever Ouriathos, ou Viriatho, deriva provavelmente da palavra céltica «viriola», que significará «bracelete». O bracelete, muito usado por celtas e lusitanos, pode ser ou um distintivo de guerreiro ou um símbolo de liderança.
Atribui-se-lhe normalmente uma origem mais ou menos humilde, ligada à pastorícia, e, posteriormente, ao bandoleirismo. Por outro lado, parece pouco crível que um simples pastor fosse tão exímio combatente e estratega militar; tudo no seu procedimento leva a pensar que de um «profissional» da guerra se tratava. É pois mais provável que se tratasse de um membro da classe guerreira, ou de um grupo de guerreiros, que desempenhasse também funções como pastor.·
Terá nascido por volta de 190 a.c. ou 170 a.c., isto segundo o autor Maurício Pastor Muñoz. A sua saída do anonimato para a constelação dos imortais históricos deu-se num momento de crise do seu povo. Efectivamente, no começo do século III a.c., os Romanos dominavam todo o sul da Península Ibérica e começavam já a ter pretensões sobre territórios mais a ocidente. Sucede que os Lusitanos praticavam uma economia de transumância, ou seja, uma pastorícia semi-nómada, em que o gado dos pastores circula por determinado território ao longo do ano, passando de região para região consoante o clima - e, assim, acabaram provavelmente por entrar em colisão com fronteiras delineadas pelos Romanos no sudoeste ibérico. Começaram pois a registar-se ataques de parte a parte. Vários caudilhos lusitanos se destacaram no combate contra as forças romanas: Púnico, Caisaros, Caucainos.
Entretanto, um dos generais enviados por Roma, o pretor Sérgio Sulpício Galba, que foi pesadamente derrotado pelos Lusitanos, cometeu em 150 a.c. um hediondo e cobarde massacre contra as tropas lusitanas: conhecendo a necessidade de terras por parte dos Lusitanos, fez constar que estava disposto a oferecer-lhes, aos Lusitanos, terras para que se estabelecessem pacificamente, exigindo apenas em troca que os mesmos depusessem as armas. Muitos indígenas reuniram-se perante as forças de Galba, desarmados, aguardando que o romano cumprisse a sua palavra; ora este, apanhando-os desarmados, chacinou-os em larga escala, assassinando cerca de nove mil e enviando vinte mil para a Gália como escravos. O crime foi tão grave que até em Roma se instalou a indignação, pelo que Galba foi chamado a justificar-se perante o Senado romano. Este não o absolveu de imediato, mas acabou por fazê-lo diante da brilhante prosápia de Galba e da cedência ao Senado de parte do saque que tinha realizado na Península Ibérica.
Mas houve quem escapasse a tal matança colectiva. Viriato terá sido um deles.
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